domingo, 1 de junho de 2008

Resenha sobre o filme "Homo sapiens 1900"

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

DISCIPLINA: HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

PROFESSOR : RICARDO CASTRO

ALUNA: NAIARA ALVES DA SILVA DRE: 107360698

Uma das principais características do filme “Homo Sapiens 1900”, dirigido por Peter Cole em 1998 é a tentativa de desmistificar a eugenia enquanto fenômeno exclusivo da sociedade moderna alemã. Respeitando as características peculiares das sociedades alemã, sueca, norte-americana e soviética, o diretor nos mostra que essa percepção da humanidade está muito veiculada às mudanças sociais advindas com a Modernidade.

A percepção de ciência enquanto caminho para a intervenção humana na natureza seria uma resolução para a dicotomia homem X natureza que emergiu junto do pensamento iluminista, aproximadamente em fins do século XVII e ao longo do século XVIII. Pode-se concluir, então, que esse pensamento “acompanha” o nascimento da Modernidade. Com o desenvolvimento das técnicas científicas, a partir de pesquisas, e nesse contexto, sobretudo os projetos ligados à biologia e medicina, surge na sociedade uma convicção de que a Ciência poderia aperfeiçoar a humanidade, nesta longa jornada rumo ao “progresso das civilizações”.

Nesse ínterim, as ciências sociais foram utilizadas como instrumentos de tais proposições. A Antropologia, por exemplo,, ratificava a suposta superioridade racial de alguns povos a partir de estudos profundos sobre outros grupos sociais, considerados inferiores. A doutrina racialista, que divide a humanidade em “raças humanas” com características físicas próprias consiste na “semente” de uma ideologia mais radical, que classifica as raças em condições de superioridade X inferioridade a partir da atribuição das características culturais às raças superiores e outras, às inferiores.

A discussão sobre a eugenia se dá nesse contexto em “Homo Sapiens 1900”. O termo deve ser compreendido como a reprodução dos indivíduos superiores e inferiores separados em sua categoria racial. Sendo assim, a eugenia positiva é a primeira e a segunda é a negativa. Essa ideologia está presente numa órbita que engloba outras teorizações. A eugenia positiva tinha como objetivo anular a negativa, que representava física e socialmente a degeneração; isto é, os defeitos hereditários, a estranheza às deformidades físicas associaram-se à noção de decadência social. Portanto esses indivíduos representavam, pelas suas deficiências, as falhas de uma sociedade, de um povo, de uma raça. Outro aspecto associado à eugenia constitui o conceito de higiene racial; mecanismo de bem-estar coletivo, com a manutenção das linhagens valorizadas, a partir de um estímulo da eugenia positiva e um desestimulo da eugenia negativa, através de políticas de esterilizarão, por exemplo.

Na Alemanha, essas teorizações associavam-se à beleza estética do corpo. Os padrões de beleza da Grécia Antiga em seu período clássico foram resgastadas e inseriram-se na ideologia eugênica alemã. A cultura da beleza visava unir o conceito de belo(supracitado) à estética de força do homem.Na URSS,a superioridade estava relacionada à inteligência humana, e a fundação em 1924 de um instituto cuja finalidade era estudar o cérebro de indivíduos altamente capacitados intelectualmente(o primeiro foi o cérebro de Lênin) comprava tal fato.Contudo nesse paísas pesquisas científicas que confirmavam a eugenia sofreram diversas interrupções. A eugenia era entendida por parte do Kremlim como um pensamento reacionário e contra –revolucionário.Para muitos políticos e intelectuais ela representava bem os interesses do sistema capitalista, porque fundamentava o indivíduo a partir de sua linhagem ancestral,valorizando mais o passado do que as futuras gerações .Por isso, o lamarckismo foi muito valorizado e alguns cientistas soviéticos defenderam-no veementemente , como Krammeler. Alguns revolucionários acreditavam que o lamarckismo devolvia aos indivíduos do presente as características que poderiam compor um possível futuro.

Outro grupo analisado ao longo do filme foi o desdobramento da eugenia nos EUA e Suécia. Nos EUA as pesquisas que estimulavam o pensamento eugênico recuaram por volta de 1942, em decorrência do impacto da divulgação das atrocidades ocorridas na Alemanha,além da crescente contestação dessa concepção de ciência dentro da própria comunidade científica.Já sobre a Suécia podemos citar a lei de esterelização , que encontrava-se em vigor mesmo após a Segunda Guerra e a fundação do Instituto de Biologia Racial em 1922 nesse mesmo país .

É interessante notar os impactos da Modernidade,que estimularam a busca por alternativas sobre o futuro e por uma seguridade da humanidade através de uma perfeição física perduraram ao longo do século XX . Ainda hoje,observamos outras concepções muitas vezes advindas da idéia de raças ,status de superioridade e inferioridade sócio-culturais.Novos dilemas envolvem a ciência contemporânea , envolvendo novas questões éticas .Legalização do aborto,pesquisa com células-tronco embrionárias são alguns das novas problemáticas acerca da dinâmica sociedade-ciência.Ética ,moral e religiosidade são fundamentais para ser discorrer sobre tais debates como “perfeição”, “progresso”, “civilização” e “raça” são essenciais para se compreender a eugenia nos países em que esta se fez presente.

domingo, 6 de abril de 2008

Fichamento do texto 3: HOBSBAWM,Eric.A era dos impérios. Rio de Janeiro, Paz e Terra,1988.Capitulo 1

Esse capítulo, o primeiro da obra “A Era dos Impérios”, inicia-se com uma breve explicação acerca das comemorações do centenário. Na verdade, Hobsbawm analisa os anos de 1780 e 1880 e suas respectivas conjunturas, que modelaram ondas bastante diferentes. A escolha de 1780 constitui-se da representação da Declaração de Independência e da revolução Francesa – 1776 e 1789, respectivamente – como registro do nascimento de uma nova concepção de mundo fundamentada nos princípios políticos, jurídicos e morais do então ascendente sistema capitalista. Já o ano de 1880 representa um outro momento desse sistema: a revolução industrial traz consigo novas idéias e representações sobre o mundo. Aqui, a predominância é a do ideal de progresso, de Estados-nação desenvolvidos e de superioridade racial.
Sendo assim, as diferenças ente os anos de 1780 e 1880 são marcantes de tal maneira que parecem polarizar esses dois mundos. Na primeira conjuntura os diferentes ritmos de produção que se configuravam nos diversos Estados não eram tão díspares entre si. Contudo, no século XIX, por uma série de fatores “a defasagem entre os países ocidentais [...] e os demais se amplio, primeiro devagar, depois cada vez mais rápido” (p.32).Eric Hobsbawm conclui que “a tecnologia era uma das principais causas dessa defasagem, acentuando-a não só econômica como politicamente” (p.32).Portanto a revolução industrial oi um mecanismo ampliador das diferenças não somente a nível internacional mas também dentro de um único Estado-nação, A partir das implementações tecnológicas as distancias geográficas “encurtaram-se”, permitindo significativos fluxos migratórios e um maior intercâmbio cultural. O desenvolvimento do setor de comunicações e transporte também contribui a maior conexão desse novo mundo densamente povoado.
A partir de 1880 pode-se falar de um sistema articulado composto por duas partes distintas: o chamado Primeiro Mundo, representado sobre tudo por uma concepção de Europa que consistiam em

[...] o conjunto de Estados através dos quais e pelos quais a conquista econômica – e, no período que nos ocupa, a conquista política – do planeta , estava unida tanto pela historia como pelo desenvolvimento econômico. Esse conjunto de estados era a “Europa” constituído não só pelas regiões que formavam, claramente, o cerne do desenvolvimento capitalista mundial – sobretudo a Europa central e do Noroeste e algumas colônias ultramarinas.

Já o Segundo Mundo com uma dimensão física bem maior e heterogênea guardava em comum o atraso tecnológico que sentenciava as suas partes a uma condição de dependência e subordinação.
Por representar “o centro original do desenvolvimento capitalista que dominava e transformava o mundo” (p. 36), a Europa tornou-se nesse século “a peça mais importante da economia mundial” (p.36). Por isso, a cultura erudita das suas colônias era dependente das expressões culturais européias. O velho continente era referencia de superioridade cultural e o seu padrão civilizatório era um modelo a ser seguido ao longo do século XIX pela América Latina, Ásia e África.
E por fim o autor nos revela que à dominação econômica seguia-se a dominação ideológica. Dessa maneira, nesse século de progresso surgiam concepções que separavam a humanidade em diferentes categorias. Essas construções, de hierarquia racial, baseadas em pseudocientíficos ascendiam com intensidade ao longo do século que Eric Hobsbawm chamou atenção para a sua particularidade, uma vez que “nunca houve na história um século mais europeu, nem tornará a haver” (p.36).

domingo, 30 de março de 2008

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
DISCIPLINA: HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA
PROF: RICARDO CASTRO
ALUNA:NAIARA ALVES DA SILVA DRE:107360698


Fichamento do Texto 2: FALCON, Francisco.”O capitalismo unifica o mundo” In.:REIS FILHO,Daniel Aragão (org.) O século XX:o tempo das incertezas. Rio de Janeiro,Civilização Brasileira,2000.p.11-76.


O texto de Falcon apresenta informações factuais tais como a informação de datas e divisões periódicas a fim de que se pudesse observar as etapas do sistema capitalista.Contudo, o autor não se limitar a apresentar dados históricos, mas também introduz uma discussão historiográfica acerca do tema do qual se propõe a analisar: a expansão européia de fins do século XIX e inicio do século XX pelos continentes africano, asiático e americano.
Após uma breve discussão sobre alguns conceitos que estão ligados diretamente ao tema em analise – como o de capitalismo ou até mesmo a idéia de Europa – o autor utiliza-se de uma periodicidade conjuntural para refletir a oscilação de crise e prosperidade na Europa ao longo da Idade Moderna, que se inicia em fins da Idade Média.
Em seqüência, o autor constrói o cenário político, social e cultural da expansão capitalista desde a sua fase inicial, que Falcon caracteriza como “pré-capitalista”, passando pelo estágio do capitalismo industrial,quando se iniciam as colonizações de África, Ásia e América, calcadas numa idéia de imperialismo. Isso implica dizer que, se nas colonizações dos séculos XV-XVI há uma discussão historiográfica sobre o grau de interferência de uma possível lógica capitalista, e se houvesse, de como seria a sua respectiva configuração, nessa nova conjuntura, trabalha-se com distintas perspectivas. Nessa colonização de meados do século XIX a “expansão assume agora, aos poucos, novas características do ponto de vista dos objetivos, métodos e as motivações que as comandam” (p. 51)
Contudo Falcon ressalta a importância de dividir a expansão do século XIX em dois períodos uma vez que “tais características não se mostram uniformes nos espaços e tempos do Oitocentos” (p. ).Ainda que considerem a cronologia pré e pós 1870-80 “problemática” pelas suas implicações teóricas, o que difere o período antecedente a 1870-80 do período que o sucede consiste num conjunto de acontecimentos de significativa relevância:

O que se pode observar, na realidade, é a aceleração do processo expansionista em diversos sentidos, em conexão, provavelmente, com dois fatores: os efeitos da ‘grande depressão’ (1873-96) do seculo XIX; a entrada em cena de novas potências – Alemanha, Bélgica, Itália,Japão, Estados Unidos e mesmo a Rússia – subvertendo inteiramente os dados de uma competição até então quase exclusivamente anglo-francesa (p.52)

Dentro dessa lógica, Falcon ressalta quatro atores sociais de participação bem-definida: exploradores, missionários, militares e empresários. Os primeiros consistem numa “mistura de aventureiros e cientistas” (p.52), que partiam em expedições terrestres por África, Ásia ou América em busca de achados científicos e mapeamentos do território. “A ação dos missionários católicos e protestantes bem menos sensacional, foi, no entanto muito mais ampla e persistente” (p.52),enquanto os militares foram responsáveis pela dominação dos povos nativos.Já os empresários, “sempre presentes e atuantes (p.53), eram “as vezes os pioneiros, aqueles que chegaram primeiro e se estabeleceram com seus negócios, comprando e vendendo as ‘nativos’”(p.53).
Falcon encerra seu texto depois de tratar de casos específicos da expansão como a ocupação do Egito, Argélia, parte ocidental de África, África do Sul, Índia, Sudeste da Ásia, Extremo Oriente, e finalmente, a América.

domingo, 23 de março de 2008

Fichamento n°1

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Disciplina:História Contemporânea
Professor:Ricardo Castro
Aluna:Naiara Alves da Silva
DRE: 107360698



Berman,Marshall.Tudo que é sólido desmancha no ar-a aventura da modernidade.São Paulo,Companhia de Bolso,2007.Introdução:Modernidade-ontem,hoje e amanhã.pp.24-49


Nessa introdução, o autor preocupa-se em definir modernidade enquanto um estado de transformação constante, e essas mudanças seriam desencadeadas pelo paradoxo contido nesses novos tempos. Em outras palavras, a Modernidade implica um sem-número de incertezas pelo que é, pois a sua própria existência não solidifica coisa alguma-pelo contrário, sentimentos, percepções, conceitos e ideologias modernos representam necessariamente o novo, aquele que se transformou, o de vanguarda, o moderno. Portanto, "ela nos despeja a todos num turbilhão de permanente desintegração e mudança, de luta e contradição, de ambiguidade e angústia". (P.24)
Ao propor uma análise acerca da "dialética da modernização e do modernismo" (P.25), Marshall Berman divide a modernidade em fases: a primeira, do século XVI até o final do século XVII, que se caracteriza como as primeiras percepções do fenômeno do qual não se tinha muita noção. Já a segunda, que se inicia com os movimentos revolucionários de 1790, é a fase em que as pessoas vivem as mudanças de um tempo moderno, mas ainda "lembra[m] do que é viver, material e espiritualmente, em um mundo que não chega a ser moderno por inteiro". (P.26)
E finalmente, a terceira etapa, correspondente ao século XX, representa a expansão do processo de modernização e a "cultura muldial do modernismo em desenvolvimento atinge espetaculares trunfos na arte e no pensamento". (P.26) Todavia, essa grande multidão rompe-se em diversos seguimentos. Com isso, essa era a moderna parece "que perdeu contato com as raízes de sua própria modernidade" (P.26)
Berman caracteriza Rousseau como sendo o primeiro pensador a utilizar palavra modernismo no sentido em que ela será utilizada posteriormente, ao longo dos séculos XIX e XX. Ainda que estivesse na primeira fase desse processo, esse filósofo conseguiu enxergar o turbilhão social que se iniciava e na sua obra A Nova Heloísa, sob a análise de Berman, parece transmitir as percepções de Rosseau sobre esse mundo agitado e novo pois:
Essa atmosfera de agitação e turbulência, aturdimento psiquico e embriaguez, expansão das posssibilidades de experiências, destruições das bareiras morais e dos comprissos pessoais, auto-expansão e auto-desordem, fantasmas na rua e na alma - é a atmosfera que dá origem à sensibilidade moderna. (pp.27-28)
As impressões da segunda fase sob o fenômeno da modernidade e suas implicações foram analizadas por Berman a partir de Nietzsche e Marx. Segundo Berman, Marx acreditava que a vida moderna tinha a contradição arraigada em sua base enquanto Nietzsche, a partir de sua percepção de que os "ideais cristãos da integridade da alma e a aspirações à verdade" levariam "a implodir o próprio cristianismo" (P.31) também concluiu que "as correntes da história moderna eram irônicas e dialéticas" (P.31)
Chegando ao século XX, Berman fala de outras fases do modernismo, como futuristas se caracterizavam pelo louvor à tecnologia moderna.
A segunda metade do século XX teve o movimento modernista divido em três tendências. O afirmativo tinha como preocupação apenas a própria arte. A segunda tendência "deixa de lado toda a força afirmativa e positiva em relação à vida" (P.13) e passa pelo oposto, de interpretação pertubadora a respeito da vida moderna. A terceira, ausente da paixão e da rejeição respectivamente supracitadas "recriou a abertura para o mundo" (P.44) apesar de não ter desenvolvido "uma perspectiva crítica que pudesse esclarecer até que ponto devia caminhar essa abertura para o mundo moderno e até que ponto devia caminhar essa abertura para o mundo moderno tem a obrigação de ver e denunciar os limites dos poderes deste mundo". (P.45)
Berman finaliza seu texto ressaltando a importância de se analisar os modernismos como forma de se compreender melhor não só o passado, mas também os dias futuros.